10/05/2008

Visão do invisível

Ainda no tema das fraturas. A palavra de ordem da sociedade contemporânea é a visibilidade. É a maior mercadoria. A mercadoria que antecede todas as outras. O fetiche disseminado e acolhido de forma ampla. Essa mercadoria é monopólio dos meios de comunicação de massa. Os meios de comunicação de massa são empresas privadas e regidas pelas regras da lucratividade. Valem pelo que obtém de atenção. Vendem seus espaços e tempos para dar visibilidade a quem lhes paga. Se a produção de visibilidade, em termos sociais, passar a ser conseguida gratuitamente, as empresas dos meios de comunicação de massa perderão o sentido e os lucros. Vão falir. Esse estado de coisas não seria trágico se, na sociedade contemporânea, a imagem que fazemos do mundo não se originasse basicamente nos e dos meios de comunicação. Então, só existe o que eles tornam visível.

Os eventos da cultura espontânea, ou não, do povo dificilmente adquirem visibilidade através dos meios de comunicação e por isso dificilmente existem, de fato, no imaginário da maioria da população. Estamos pensando aqui em todas as formas de produção de bens simbólicos, desde as menos sofisticadas tecnologicamente até o vídeo e as páginas da Internet. Samba de roda, xilogravura, literatura de cordel, cerâmica, coisas que só adquirem visibilidade quando recebem um tratamento especial que as impulsiona para o consumo na forma mercadoria. Passam aí a falar a língua de “gente grande”, o negócio.

Sem negócio não tem conversa, nem existência pública. A cultura “de verdade” está condenada pelos meios de comunicação a ser contida na esfera privada, no máximo comunitária. Aí está uma bela fratura e um belo nó a ser desatado. Comunicação de massa é questão pública e faz parte das políticas públicas que dizem respeito à cultura, no entanto aí prevalecem os regimentos do interesse privado. Quem compra essa briga?

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