22/01/2009

Gosto underground



Padrões de gosto underground

Jorge Cardoso Filho

Falar sobre padrões é sempre bastante difícil. Na maioria das vezes, os padrões impedem de perceber sutilezas e singularidades de um indivíduo ou objeto, nos deixando apenas com conhecimento muito vago sobre aspectos genéricos. Expressões como cultura pop, música popular, mainstream e underground são algumas das utilizadas para falar sobre os padrões do campo musical na cultura contemporânea. Por outro lado, elas também indicam que o ouvinte percebe recorrências nos diferentes objetos e composições (sejam as sonoridades, a performance ou mesmo os temas aos quais se referem), o ouvinte entende que esses diferentes objetos podem fazer parte de um mesmo sistema ou tradição.

Aqui encontramos um rico ponto de debate para críticos culturais, jornalistas e profissionais da cultura que lidam constantemente com essa dicotomia entre aspectos gerais e singularidades. Falar sobre o novo álbum do Sepultura, por exemplo, significa reconhecê-lo como elemento de uma tradição e também estar atento para as especificidades que ele apresenta. Como apreender a singularidade de uma expressão e, ao mesmo tempo, remetê-la a um universo mais geral e partilhável? Não seria essa a questão anunciada por Kant na sua Crítica da faculdade de julgar?

No livro Poética da música underground tento discutir mais profundamente esse tema, buscando captar as singularidades e padrões que podem ser identificados na cena Heavy Metal da cidade de Salvador. Drearylands, Malefactor, Carnified etc. são algumas das bandas que fazem parte dessa tradição, mas isso não significa que todas elas sejam underground pelas mesmas características. Seus diferentes estilos, quando reunidos, nos permitem pensar numa poética. Uma poética que orienta o padrão de gosto underground.